quarta-feira, 30 de junho de 2010

ruídos

Seja pontual
escove os dentes
peça licença
remova as manchas
não odeie
seja tolerante
baixe a tampa
peça desculpas
pague as contas
seja paciente
colabore com o troco
de passagem
passe desodorante
seja gentil
não pragueje
puxe a descarga
agradeça
não roube
lave a louça
seja compeensivo
atravesse na faixa
ponha no lugar
proibido fumar
peça por favor
não jure em vão
durma 8 horas
acorde cedo
não tenha medo
não use alvejante
seja tolerante
apare as unhas
apague as luzes
poupe água
seja condecendente
passe protetor
não guarde no calor
cozinhe no vapor
faça a barba
respire fundo
conte até dez
não julgue
sorria você está sendo filmado
proibido estacionar
mão dupla
cumprimente
proibido ultrapassar
saída de emergência
diga não a violência
beba com moderação
ande
pare
animais na pista
fiado não incista
não seja racista
seja previdente
recado urgente
não seja descrente
tente invente
dê bom-dia
diga adeus
olhe nos olhos
de seis em seis
pra ontem
oil free
0% de gordura trans
light
diet
não contém glúten
frágil
este lado para cima
tome vacina
beba urina
lave as mãos
em dias úteis
não há vagas
pra levar
impróprio para mebnores
sob nova direção
pega ladrão
15 minutos de fama
nada é eterno
da vida nada se leva
consumir em 3 dias
dia sim dia não
vai subir
desce
capacidade máxima
velocidade permitida
empurrar com a barriga
olho branco
ouvido de mercador
qual é o valor
quanto pesa
quanto mede
obedece quem tem juízo
aviso
errata
greve geral
mão na parede
o peixe pro fundo da rede
segredo
escândalo
lave a seco
alerta
convocação
aliste-se
compareça
baixe
compre
salve
delete
brilho, semi-brilho e fosco
não se bate no rosto
sirva-se a gosto
taxa
imposto
contribuição expontânea
voluntariado
pega o veado
sem açucar
sem sal
sem vergonha
contém fibras
prazo
multa
spc
cerasa
a fogo e brasa
feito a mao
made in china
100% algodão
ashuashuashua
kkkk
XD
hd
lcd
led
banda larga
pista da direita
progressistas
socialistas
capitalistas
suicidas
110 e 220
cheque especial
corrida espacial
especialidade do dia
sugestão da casa
usb
hdtv
h1n1
h2o

do pó ao pó
doremifasollasidó
quilos
toneladas
megabites
carbon free
radicais livres
terrorismo
altruísmo
te benze
sai da frente
chama a polícia
procon
meprazol
não se dá peixe mas o anzol
spray
aerosol
roll on
tetra- pak
rediscagem
sacanagem
corrupção ativa
sexo passivo
aperte o cinto
das 9 as 5
reduzir velocidade
reinicializar
reset
volte
sujeito a chuva
contém suco natural de uva
a esquerda
stand bye
bye bye.

do verão II

retorno ao lado sul do pier
o sol por trás de uma gase de nuvem
insustentável e protetora
Depeche Mode
a revista Mode
tik tok sem relógio
a água salgada secando no corpo
idosos se alongam
a visão se estreita
por entre os vãos já posso partir
num barquinho azul de Iemanjá
good life
bad romance
uma coisa boa
a melhor coisa
coisa nenhuma
Sain Etienne
davene
irene
rindo por dentro e chorando por fora
me solto nas águas
o líquido me envolve e açoita
já não sou eu
sou um peixe morto
o guardião do fóssil
uma fera aparentemente abatida
volta ao mar
saio de mim
nunca estive em ti
esqueço deles
e procuro por nós.

terça-feira, 29 de junho de 2010

do verao I

sol raiando pos festa
a praia adornada
com guirlandas de oferendas
barquinhos, perfumes
pentes e sabugos de milho
por entre os pilares da plataforma
o sol como um ouro
derretendo o horizonte
a maré que sobe
com sua língua incansável
tentando alcançar meus pés
logo ali me benzi
com a água da fonte do amor
reverência pra Iemanjá
a dona da praia
cadeira a sombra
da construção confusa e feia
que só mesmo o mar disfarça
pescadores como formigas
sentei-me bem no caminho
entre um lado e outro da plataforma
escondido do sol
mas nao dos olhartes
nem dos bom-dia de alguns estranhos
no horizonte
ainda o fog matinal
fazendo a cena parecer um quadro de Monet
a senhorita
o idoso
o cão negro
a menina com o pai
o corredor
as gordinhas
o casal de mãos dadas
a água enfim me alcança
gelada e gentil
vento nordeste
águas de cristal
verde oliva aquarelado
e eu aqui
a sombra do fóssil
a polataforma
como um grande espinhaço exposto de dinossauro
há muito derrotado
com uma boca banguela e alitosa
a cuspir esse mar
que sempre avança
e não sai do lugar
um movimento
que vem de longe
que não é meu
e que não para
que atrai e repele
que me assusta e diverte
eu recuo
ele avança
uma velha revira uma oferenda
o som de um piano no mp3
torna tudo um filme
meio anima planet
meio novela das oito
meio conto de fadas
meio costa gavras
meio beverly hills
meio melrose placed
meio will sem grace
um musical holywoodiano
e já estamos dançando
um corpo de baile capenga
sincronizado e cambaleante
meio divino meio profano
meio mágico meio sem graça
a quarentona sarada
o adolescente com seios
a loira esperta
a morena burra
o pescador impaciente
as crianças indóceis
a anã de maiô
a velha de bikini
o chimarrão
o milho
miséria e carro importado
fé e descrença
os guarda-sóis já vão abrir
os salva -vidas já vão chegar
a conversa com o cão
e o silêncio das pessoas
o surfista tardio
e o vendedor de doces
o aposentado com jornal
e um homem sujo
meio pescador meio indigente
meio achado meio sem rumo
meio pedindo meio ofertando
a maré baixou
o sol subiu
janeiro se foi
fevereiro sorriu
o yorkshire e o guaipeca
a loira e o negro
tudo junto agora.

há dias
k nunca existiram
e dores
k nunca curaram
há planos
k nunca se realizaram
e revelações
k nunca foram ditas
há horas
k jamais passaram
e fotos
k n inguém viu
há prazeres
k nao foram sentidos
e segredos
k não se ousou revelar
há beijos
k ainda dormem nos lábios
e motivos
k nunca foram explicados
há desculpas
k jamais foram pedidas
e sóis
k jamais raiaram
há livros
k nunca foram escritos
e corpos
k nunca tiveram alma
há âncias
k não tiveram calma
e um continente
k ainda não foi encontrado
há uma verdade
k nunca foi questionada
e uma história
k ninguém contou
há um eu
k nunca nasceu
e um eu
k nunca morreu.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

inesquecível

o improvável
se tornara rotina
o impossível
ali, disponível a todos
o incrível
atirado num canto da sala
o inenarrável
abrindo o bico
a incerteza
tinha chegado a uma conclusão
a incompatibilidade
de beijos no sofá com a solidão
o inconformismo assistindo a novela de pantufas
a incapacidade fazia uma faxina na cozinha
a improbabilidade
disse que vinha e veio
a ingratidão
mandara um cartão de desculpas e flores
o inconcebível
ligou marcando um encontro
o indiável
mandou e-mail dizendo k não vinha
o incansável
cochilava na poltrona
o irrecusável
recusou-se terminantemente
o interminável
gritou fim
a indecisão
saltou e abriu um champanhe
a imperfeição
com a maquiagem corretíssima
a incomunicabilidade
falava pelos cotovelos
a impaciência
lia uma revista displicente
a injuria
contou toda a verdade
a tristeza
ria bêbada com a infelicidade
foi o inesquecível
que me contou essa história
mas não conseguiu lembrar de tudo.









domingo, 27 de junho de 2010

nada adiantou

cercou-se de velas
colou santinhos nos móveis
pendurou medalhas no peito
imagens de santos nos quadros
um cristo no porta retrato
cristais, brancos, pretos, rosas...
colocou uma maçã para os gnomos
fita do senhor do bomfim no pulso
escapulário
São ento na mochila
Aparecida na estante
Iemanjá na cabeceira
Santo Antônio no criado mudo
Shiva ao lado da tv
uma flor amarela pra Oxum num vaso
ao lado dos gatinhos japoneses da sorte
nossa Senhora na porta
os dedos em figa
ferradura embaixo da cama
pé-de-coelho no chaveiro
pentagrama desenhado no chão
incenso de sete ervas
benzeu-se
rezou um Pai-nosso
fez o sinal da cruz
fez daimoku
e nada adiantou.

sábado, 26 de junho de 2010

a noite dos espelhos

o mar
cio das águas
em marés pos humanas
negou a mim
moradia e aconchego
e em ondas textuais repetia
e agora, e agora, e agora
neste mesmo dia
despido da sanidade
não suportava minha própria visão
nos espelhos da casa
como vampiro
fujindo da cruz
como demônio
apavorado com a luz
eu, nu e desarmado de minhas mentiras
tentava escapar
dos reflexos impiedosos
minha face desconhecida
meu olho k me olhava
sentenciava silêncios
aos crimes k eu não keria ouvir
um cigarro na mão trêmula
com uma fumaça serpenteante
k escrevia mantras no ar denso do quarto
janelas trancadas
vida confinada
repetição da repetição
as mesmas hipóteses
os mesmos amanhãs
carossel angustiante
minhas certezas
girando sem graça
no mesmo lugar
um cortejo de zumbis
uma nuvem de morcegos
um banquete de escrementos
um gosto de fel na boca
o amargo da palavra não dita
num ato de bravura
k só depois vi k era loucura
sai pela casa
quebrando todos os espelhos
triturando
moendo para k nao mais refletissem
ironicamente
esgotado e ferido
ainda pude ver através dos minúsculos cacos
a mim
fragmentado
deformado
desmembrado
vítima e algoz
herança e herdeiro
pedra e pedreiro

o korpo

acharam-na morta
estava na cama
tinha na mao dirteita uma torta
e na esquerda uma lata de fanta uva
parecia estar dormindo
mas ja estava partindo
encontraram 78 baganas de cigarro numa gaveta
uma echarpe com catarro
e um desodorante na buceta
a expressao era de felicidade
mas morreu de tristeza
havia uma sacola de super cheia de coco
e lenços escondidos com sangue num tricô
a tv ainda ligada na VH1
um exame positivo de HIV
acharam um feto na tulha
e um boneco
com a foto de um homem
enterrado por uma agulha
o cheiro era de orquidea e morte
havia uma bussola sem o norte
e um celular com memoria apagada
a alguem k esta sofrendo e nao me deixa ajudar


sei k sofres
ao longe
ouço teu pranto
tao longe
nao posso te segurar
e a queda é iminente
a tragedia que se abateu
a morte k invade
sem cerimonias

a aginia de nao ter certeza
acordava aos gritos
o dia k chora em chuva
todo o sentir
deste momento
se lembro de ti
tb choro
quem mandou amar

a chuva chega


mansa e benéfica


as plantas gargalham


nesta manhã louca de inverno