terça-feira, 29 de junho de 2010

do verao I

sol raiando pos festa
a praia adornada
com guirlandas de oferendas
barquinhos, perfumes
pentes e sabugos de milho
por entre os pilares da plataforma
o sol como um ouro
derretendo o horizonte
a maré que sobe
com sua língua incansável
tentando alcançar meus pés
logo ali me benzi
com a água da fonte do amor
reverência pra Iemanjá
a dona da praia
cadeira a sombra
da construção confusa e feia
que só mesmo o mar disfarça
pescadores como formigas
sentei-me bem no caminho
entre um lado e outro da plataforma
escondido do sol
mas nao dos olhartes
nem dos bom-dia de alguns estranhos
no horizonte
ainda o fog matinal
fazendo a cena parecer um quadro de Monet
a senhorita
o idoso
o cão negro
a menina com o pai
o corredor
as gordinhas
o casal de mãos dadas
a água enfim me alcança
gelada e gentil
vento nordeste
águas de cristal
verde oliva aquarelado
e eu aqui
a sombra do fóssil
a polataforma
como um grande espinhaço exposto de dinossauro
há muito derrotado
com uma boca banguela e alitosa
a cuspir esse mar
que sempre avança
e não sai do lugar
um movimento
que vem de longe
que não é meu
e que não para
que atrai e repele
que me assusta e diverte
eu recuo
ele avança
uma velha revira uma oferenda
o som de um piano no mp3
torna tudo um filme
meio anima planet
meio novela das oito
meio conto de fadas
meio costa gavras
meio beverly hills
meio melrose placed
meio will sem grace
um musical holywoodiano
e já estamos dançando
um corpo de baile capenga
sincronizado e cambaleante
meio divino meio profano
meio mágico meio sem graça
a quarentona sarada
o adolescente com seios
a loira esperta
a morena burra
o pescador impaciente
as crianças indóceis
a anã de maiô
a velha de bikini
o chimarrão
o milho
miséria e carro importado
fé e descrença
os guarda-sóis já vão abrir
os salva -vidas já vão chegar
a conversa com o cão
e o silêncio das pessoas
o surfista tardio
e o vendedor de doces
o aposentado com jornal
e um homem sujo
meio pescador meio indigente
meio achado meio sem rumo
meio pedindo meio ofertando
a maré baixou
o sol subiu
janeiro se foi
fevereiro sorriu
o yorkshire e o guaipeca
a loira e o negro
tudo junto agora.

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