sábado, 26 de junho de 2010

a noite dos espelhos

o mar
cio das águas
em marés pos humanas
negou a mim
moradia e aconchego
e em ondas textuais repetia
e agora, e agora, e agora
neste mesmo dia
despido da sanidade
não suportava minha própria visão
nos espelhos da casa
como vampiro
fujindo da cruz
como demônio
apavorado com a luz
eu, nu e desarmado de minhas mentiras
tentava escapar
dos reflexos impiedosos
minha face desconhecida
meu olho k me olhava
sentenciava silêncios
aos crimes k eu não keria ouvir
um cigarro na mão trêmula
com uma fumaça serpenteante
k escrevia mantras no ar denso do quarto
janelas trancadas
vida confinada
repetição da repetição
as mesmas hipóteses
os mesmos amanhãs
carossel angustiante
minhas certezas
girando sem graça
no mesmo lugar
um cortejo de zumbis
uma nuvem de morcegos
um banquete de escrementos
um gosto de fel na boca
o amargo da palavra não dita
num ato de bravura
k só depois vi k era loucura
sai pela casa
quebrando todos os espelhos
triturando
moendo para k nao mais refletissem
ironicamente
esgotado e ferido
ainda pude ver através dos minúsculos cacos
a mim
fragmentado
deformado
desmembrado
vítima e algoz
herança e herdeiro
pedra e pedreiro

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