segunda-feira, 4 de abril de 2011


Ao voltar para sua casa em estilo rural em Sacramento, depois de um longo dia de trabalho no verão, Jon e Kim Waldrep costumavam ser recebidos por uma verdadeira muralha de calor. "Chegávamos em casa, no verão, e a temperatura estava em mais de 45 graus; era sufocante", diz Waldrep, que trabalha como gerente regional de uma empresa de alcance nacional. Ele e a mulher corriam para o ar condicionado e o ligavam, e os quatro filhos do casal, que chegavam com eles das creches, tinham de esperar alguns minutos por alívio.
Mas tudo isso mudou no mês passado. "Agora, chegamos em casa em dias em que a temperatura externa é de mais de 38 graus e, do lado de dentro, encontramos temperatura de 26 graus", diz Waldrep.
A solução que eles encontraram foi um novo telhado: uma cobertura de plástico branco brilhante que, segundo os especialistas, não só economiza energia mas pode ajudar a reduzir o aquecimento global. Aproveitando o secular princípio de que objetos brancos absorvem menos calor que os escuros, proprietários de imóveis como a família Waldrep se posicionaram na vanguarda de um movimento que adotou os "telhados frios" como uma das armas de custo mais acessível contra as mudanças no clima.
Estudos demonstram que a presença de telhados claros reduz os custos de ar condicionado em 20% ou mais nos dias ensolarados. O consumo de energia mais baixo que isso propicia significa redução nas emissões de dióxido de carbono que contribuem para o aquecimento global.
Além disso, um telhado branco pode custar apenas 15% a mais do que as versões escuras, a depender dos materiais utilizados, e ao mesmo tempo permitir uma redução nas contas de eletricidade. O secretário da Energia dos Estados Unidos, Steve Chu, ganhador de um prêmio Nobel de Física, vem difundindo o uso de telhados claros, no país e no exterior. "Telhados brancos", foi o conselho que ele deu à audiência televisiva do programa Daily Show, da Comedy Central, na semana passada.
O cientista Chu diz que seu heroi é Art Rosenfeld, um membro da Comissão Estadual de Energia da Califórnia que está em campanha pelos telhados brancos desde os anos 80, e o argumento de Rosenfeld é o de que se todos os telhados do mundo fossem claros, isso poderia representar uma redução do equivalente a 24 bilhões de toneladas em emissões de dióxidos de carbono, nos próximos 20 anos.
"Isso equivale às emissões de todo o mundo no ano passado", diz Rosenfeld. "Ou seja, em certo sentido significaria desligar o mundo durante um ano". Este mês, a casa de três dormitórios dos Waldrop está consumindo 10% menos energia do que fez no mesmo período em 2008. (A família poderia economizar ainda mais caso mantivesse o sistema central de ar em funcionamento enquanto está fora de casa.)
De Dubai a Nova Delhi e Osaka, no Japão, os telhados reflexivos vêm sendo promovidos pelas autoridades locais cuja prioridade é reduzir custos de energia. Nos Estados Unidos, eles se tornaram equipamento padronizado já há uma década, nas lojas novas da cadeia Wal-Mart. Mais de 75% das 4.268 lojas que o grupo opera nos Estados Unidos estão equipadas com eles.
Califórnia, Flórida e Geórgia adoraram códigos de edificações que encorajam a instalação de telhados brancos em edifícios comerciais. Aproveitando recursos dos fundos federais de estímulo a projetos que promovem eficiência energética, departamentos estaduais de energia e empresas locais de eletricidade muitas vezes oferecem financiamento aos interessados em adquirir telhados frios. Esses telhados também podem qualificar os proprietários de imóveis que os utilizem para créditos tributários, caso os materiais empregados constem da lista de produtos aprovados pelo programa Energy Star, da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos.
Mas o ardor dos proponentes dos telhados claros gerou reações adversas. Alguns arquitetos e especialistas em telhados argumentam que os proponentes ignoram as diferenças de clima ou as dificuldades inerentes à construção de telhados. Nos climas mais frios, dizem, telhados reflexivos podem significar custos mais altos de aquecimento, no inverno. Os cientistas reconhecem que os custos adicionais de aquecimento podem mais que compensar a economia com o ar condicionado, em cidades como Detroit ou Minneapolis.
Mas, para a maioria dos tipos de construção, afirmam, os telhados claros oferecem significativos benefícios líquidos, em regiões tão setentrionais quanto as cidades de Nova York ou Chicago. Ainda que os invernos nas duas sejam gélidos, no calor elas se tornam ilhas de calor devido aos milhares de metros quadrados de telhados que servem para absorver energia.
A física dos telhados claros é simples: o sol propicia tanto energia quanto calor, e o calor do sol é absorvido com facilidade por cores escuras. (Em um dia de verão, os telhados cobertos de piche usados em Nova York podem atingir temperatura de mais de 80 graus.) Já as cores mais claras refletem porção considerável dessa radiação, o que ajuda a manter edifícios - e, em termos mais amplos, cidades e o planeta- mais frios. E eles também re-emitem parte do calor absorvido.
Ao contrário das soluções de alta tecnologia para reduzir o uso de emergia, como iluminação por LEDs, os telhados brancos têm uma história longa e humilde. Casas em climas quentes costumam ser caiadas de branco há séculos.
Antes do surgimento dos sistemas de ar condicionado central, na metade do século 20, casas brancas ou claras, com telhados de material reflexivo, costumavam ser a norma no sul da Flórida, por exemplo. Mas então o ar condicionado central surgiu, acompanhado por telhados escuros que incluíam elementos como asfalto, piche e betume. Materiais como esses absorvem até 90% da energia calórica do sol - o que pode ser útil na Nova Inglaterra mas tem menos aplicação no Texas. Já um telhado branco pode absorver apenas 10% a 15% do calor recebido.
Agora, construtores de telhados em todo o território dos Estados Unidos estão na corrida para desenvolver produtos que lhes permitam lucrar com a expansão do movimento dos telhados planos dos shopping centers aos telhados inclinados das casas de subúrbio.
Anos de pesquisas detalhadas pelos cientistas do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley resultaram em um arco-íris de cores para os construtores de telhados, na forma de uma tabela que demonstra a capacidade de reflexão e re-emissão de cada matiz.
Hashem Akbari, colega de Rosenfeld no laboratório Lawrence Berkeley, diz que não sabe quanto tempo vai demorar para que os telhados claros conquistem o país. Mas ele aponta que um telhado, quer recoberto por telhas ou por um revestimento asfáltico, costuma durar entre 20 e 25 anos. Caso os cerca de 5% dos telhados que são substituídos a cada ano receberem cores mais claras, ele diz, a transformação no país estaria concluída em duas décadas.
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times

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